Matéria do Estadão:
"(...) como ela consegue esse corpo escultural após três meses do parto de seu primeiro filho?
Deslumbrante? Tudo bem. Photoshop? Tudo bem. Corpo escultural? OK, ela nunca foi de muitas curvas. Continua a mesma Gisele Bündchen, continua vendendo, continua top.
É lógico que, hoje em dia, ninguém mais se ilude sobre o fato de que a propaganda retoca a imagem. Ou seja, o tal do “photoshop” melhora as condições físicas da mulher fotografada. Mas, mesmo assim, o questionamento será inevitável. Afinal, ela está deslumbrante."

Problemas. Continua a mesma? Não, agora ela é mãe de um bebê de três meses. Qual o custo deste corpo escultural para seu lindo Benjamin?
Não só ela como várias atrizes são elogiadas pela mídia durante e após a gravidez por manterem um corpo "invejável" até mesmo para quem não passou por nove meses de mudanças.
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Somos orientadas pelos médicos a amamentar no mínimo até os seis meses de vida do bebê. Os estudos e pesquisas são claros ao mostrar os benefícios tanto do leite materno, quanto do contato entre mãe e filho durante a amamentação.
É verdade que muitas mães não conseguem, apesar de quererem, essa "continuação" da gravidez. Também é verdade que outras não engordam - eu mesma ganhei apenas nove quilos. Porém, é algo que acontece naturalmente.
Não esquecendo que cada ser humano é um indivíduo, único, um corpo - um conjunto - que funciona de maneira exclusiva em cada um de nós.
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Ontem, em aula, o professor perguntou a nós - a maioria mulheres - se sabíamos que a gravidez humana deveria durar mais de nove meses. Alvoroço.
A explicação é que no início da espécie, a posição de nosso corpo se assemelhava a de quadrúpedes e, portanto, o peso da barriga e a gravidade não afetavam a coluna. A partir do momento que passamos à posição ereta, a adaptação da espécie diminuiu o período de gestação interna até o ponto em que nossa coluna suportasse sem maiores danos.
Assim, os bebês passaram a nascer sem que suas estruturas estivessem completamente formadas, exigindo um período de "gestação externa", onde o bebê precisa da mãe em vários sentidos para se completar.
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Penso, então, no efeito dos elogios da mídia às mulheres que, grávidas ou com recém-nascidos, estão com corpos que "nem parecem" que estão ou estiveram com um bebê em gestação.
Chegam a dar os parabéns pela "recuperação" do corpo, mas não chegam perto de saber sobre os filhos.
E assim, nós, mulheres "normais" temos que conviver com a imagem do corpo perfeito até depois da gravidez! Assim, muitas mulheres sem a capacidade de questionar o que veem ou leem, ao invés de focarem em uma gravidez "interna e externa" saudável, pensam em seu corpo e não nas necessidades do bebê.
Algo que me incomoda há tempos. O elogio pode vir, mas antes poderia um questionamento. Porém, em um mundo onde a imagem fala - e vende - mais, o que importa são as aparências e não o nascimento de um filho, mais uma vida gerada, o amor em forma de gente.