domingo, 30 de agosto de 2009

Se eu fosse um livro eu seria...

Uma mistura de "Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto, com "A paixão segundo GH", de Clarice Lispector.
Oh, céus!

Às vezes você tem uma séria vontade de estapear as pessoas, só para fazê-las acordarem e perceberem as injustiças deste mundo. Como podem viver em seus mundinhos banais, quando há quem passe fome e totalmente à margem de qualquer conforto ou assistência? Esta talvez seja a sua maior revolta. Por isso, você tenta fazer a sua parte. Talvez por meio de um trabalho voluntário, participando de movimentos populares ou somente se exaltando em rodas de amigos menos engajados. De qualquer maneira, você consegue de fato comover pessoas com seu discurso apaixonado e, ao mesmo tempo, baseado numa lógica de compaixão e igualdade que ninguém pode negar.Essa missão é mais do que cumprida pelo belo "Morte e vida severina" (1966), poema dramático escrito pelo pernambucano Melo Neto que se tornou símbolo para uma geração em conflito com as consequências sociais geradas pelo capitalismo selvagem.

Você é daqueles sujeitos profundos. Não que se acham profundos – profundos mesmo. Devido às maquinações constantes da sua cabecinha, ao longo do tempo você acumulou milhões de questionamentos. Hoje, em segundos, você é capaz de reconsiderar toda a sua existência. A visão de um objeto ou uma fala inocente de alguém às vezes desencadeiam viagens dilacerantes aos cantos mais obscuros de sua alma. Em geral, essa tendência introspectiva não faz de você uma pessoa fácil de se conviver. Aliás, você desperta até medo em algumas pessoas. Outras simplesmente não o conseguem entender. Assim é também "A paixão segundo GH", obra-prima de Clarice Lispector amada-idolatrada por leitores intelectuais e existencialistas, mas, sejamos sinceros, que assusta a maioria. Essa possível repulsa, porém, nunca anulará um milésimo de sua força literária. O mesmo vale para você: agrada a poucos, mas tem uma força única.

O teste saiu daqui.

sábado, 29 de agosto de 2009

Educação, política, informação

"O Brasil se comoveu, na semana passada, com duas meninas. Tainá Costa Alves, 8, levou um tiro, em São Paulo, que passou a três centímetros de seu coração. No Rio, Letícia Botelho teve menos sorte e foi assassinada no dia que completaria 13 anos -no momento do tiro, comprava o vestido para a sua festa de aniversário.Por coincidência, quase ao mesmo tempo em que as balas eram disparadas, as duas cidades anunciaram um projeto que serve como uma resposta para a barbárie.

Como se fossem uma única cidade, Rio e SP iniciaram, em conjunto, uma experiência em 126 de suas áreas infestadas de violência, cuja meta, ambiciosa, não é servir de referência só ao Brasil, mas ganhar escala planetária, de Mumbai à Cidade do México, passando por Joanesburgo, vítimas da insegurança.

As duas cidades foram escolhidas pelo Unicef para testar um modelo de gestão, batizado de "Plataforma dos Centros Urbanos", em que se integram todos os níveis de poder, focados em pequenas comunidades - uma unidade menor do que o bairro.Nesses focos, monta-se uma teia formada pelos governos federal, estadual e municipal, além de entidades não governamentais, Ministério Público, sindicatos, empresários, líderes religiosos, professores.

O que se pretende é fazer com que todos esses esforços resultem num modelo replicável em que se criem condições, nos lugares mais pobres, para o desenvolvimento das crianças e dos jovens e, aí, se trabalham de segurança e educação, passando por geração de renda, saúde e assistência social até drogas.

O centro da operação dessa plataforma urbana não é o poder oficial, mas a própria comunidade. Um de seus articuladores ganhou, na quinta-feira passada, destaque mundial. É a adolescente carioca Mayara Tavares que, durante o G8, na Itália, atraiu o olhar vivamente interessado do presidente Obama. Ela atua no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio. Onde vive, ela teria uma chance razoável de um destino semelhante ao de Tainá ou Letícia.

Não se sabe o que vai sair da experiência no Rio e em SP. Mas dirigentes do Unicef dizem que, se os resultados forem bons, o projeto deve se expandir pelo mundo, onde existe a combinação explosiva entre juventude e grandes cidades.Esse teste faz parte da descoberta do valor das pequenas coisas -e a semana passada foi mais um exemplo dessa descoberta.

Um encontro reuniu, na quarta-feira, em Brasília, 120 secretários de Educação, o que significa cerca de 40% das matrículas do país. Alguns deles compartilharam pequenas soluções que vêm realizando em seus municípios, muitas de baixo custo.Em Londrina, muitos clubes, por falta de sócios, estavam abandonados. Nem precisaram de grandes reformas para que os estudantes de escolas públicas pudessem usar esses espaços; em SP são implantados os clubes-escolas. Em Sorocaba, criou-se um programa de visita de médicos às escolas e rapidamente se melhorou a produtividade dos alunos.

Em Recife, começam a desenvolver planos para que as escolas municipais tenham sua gestão compartilhada com a sociedade. Belo Horizonte, Nova Iguaçu e Barueri implantaram os bairros educativos -um projeto tocado na favela de Heliópolis, a maior de São Paulo.

No Rio, mulheres são remuneradas para fazer a ponte das famílias com a escola. Lá, na Cidade de Deus, notabilizada pelo cineasta Fernando Meirelles, escolas têm agora um professor treinado especialmente para fazer o elo com a comunidade.Decidiu-se que esse tipo de professor será disseminado por toda a cidade no projeto "Escolas do Amanhã", focado nas regiões mais vulneráveis. Esse projeto se funde, na prática, como as "Plataformas dos Centros Urbanos", do Unicef.

Sempre houve pequenas e inventivas soluções. A diferença é que, agora, elas estão ganhando escala, passando a atingir não centenas nem milhares de pessoas, mas milhões -o Bolsa Escola começou como um projeto em Brasília e em Campinas, depois se expandiu pelo Brasil e virou o Bolsa Família.

Os secretários estavam reunidos em Brasília por causa de um programa batizado de "Mais Educação", em que se envolvem vários ministérios e prefeituras para aumentar a jornada escolar. A mais recente adesão foi a do Ministério da Defesa.Motivo: a abertura dos quartéis da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, onde existem quadras de esporte que podem ser abertas aos jovens.

O Ministério da Saúde está ampliando seu programa de família para os estudantes. O Ministério da Justiça se integra com seu programa de jovens nos territórios vulneráveis. O "Mais Educação" já está em 5.000 escolas. Mas a tendência é se expandir -mudanças na legislação permitem recursos para os municípios que implantem o tempo integral. A aula pode acontecer em qualquer lugar, dentro ou fora da escola. Por exemplo: na quadra de esporte de um quartel.

Por problemas burocráticos ou políticos, São Paulo não se credenciou para os recursos (R$ 70 mil por escola) destinados a aumentar a jornada escolar e jogou o dinheiro fora. Nesse tipo de desenvolvimento local, articulado por adolescentes como Mayara, está a melhor resposta para Tainá e Letícia.

PS - Vale a pena prestar muita atenção na experiência do Instituto Unibanco -é, mais uma vez, a prova das pequenas soluções que ficam grandes. Ele ajudou 250 escolas de ensino médio a melhorar sua gestão e as notas avançaram rapidamente.
Nesse momento, ele está ensinando os próprios alunos a serem mobilizadores comunitários.
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Gilberto Dimenstein
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Quinta e sexta, participei da Conferência Intermunicipal de Educação, preparatória para a etapa estadual, que antecede a nacional - CONAE (Brasília, 2010). Fiquei no grupo que discutia o "Financiamento da Educação e Controle Social".
Precisamos evoluir muito, principalmente porque achamos que temos informação e conhecimento. Pensamos localmente apenas, desconhecemos a legislação (entre outras coisas), não conseguimos enxergar a educação dentro de um contexto maior e precisamos muito - muito!- estudar, ler, nos aperfeiçoar. E parar de reclamar!
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Aqui em Pouso Alegre, temos quatro escolas funcionando em tempo integral.
Um vereador de Itajubá, do PT (partido do prefeito daqui), presente na conferência de educação desconhecia totalmente o fato. Assim como ele, secretárias de educação e outros profissionais de cidades próximas nem desconfiavam que a "utopia" já era realidade. Precisei apresentá-lo ao diretor de uma das unidades corajosas que aceitaram o desafio - porque ainda é um desafio.
Precisamos melhorar a comunicação...

domingo, 23 de agosto de 2009

Precisava registrar

O melhor amigo do João Pedro, o Pedro, está aqui em casa e a chuva lá fora vai longe.
Sugeri que jogassem videogame, mas, na hora de ligar, somente um controle estava funcionando.
O pai corre para ajudar, a contragosto - diga-se de passagem -, e os dois só palpitando. Nada de funcionar e a conversa continua. Pergunta daqui, pergunta dali e, de repente...
_ Parem um pouco que vocês estão me deixando nervoso!!!
E agora a pérola dita pelo amiguinho:
_ É, criança é assim.
Tranquilo.

sábado, 22 de agosto de 2009

...porque a hermenêutica diatópica...


...a ética da convicção e a ética da responsabilidade podem...
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...a classe média quer privilégios e não direitos...
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E o sábado se foi. Quero mais!

sábado, 1 de agosto de 2009

Pois é, então...

Essa história de tecnologia vicia.
Internet onde você estiver, notebook, celular 10 mil em 1 - isto ficando só no básico.

Outro dia estava me lembrando de quando tinha 14 anos e fazia "curso de informática" - Basic I ! Numeração binária, fluxogramas, uma aula inteira para fazer uma bobeirinha e - agora o detalhe - gravar em fita cassete, processo que só poderia ser verificado na próxima aula porque demorava muuuuiiiiito. E hoje nós ficamos irritadíssimos quando o site demora alguns segundos a mais para abrir...

Mas, apesar de não sentir atração nenhuma pela aula (ao contrário do professor em mim), a idéia da tecnologia me agradava. Não a criação, que é o que se aprendia na época, mas as possibilidades.

A imagem me é tão vívida como se tivesse acontecido há pouco tempo: eu, sentada no sofá da sala "com perna de índio", fazendo tarefa em frente à televisão e pensando, pensando, pensando em como seria bom se eu tivesse um computador que pudesse estar em qualquer lugar a casa.

O que mais gostava de fazer era estudar (o que não mudou). A possibilidade de ter informações acessando uma máquina na sala de casa era o suprassumo. Ao invés do fichário da biblioteca, um fichário dentro do computador. Ao invés de ficar procurando em vários livros uma receita, uma lista de receitas na ordem que escolhesse e que se auto-organizasse com novas entradas.

Estou escrevendo 25 anos depois, João Pedro com 6 já domina o computador há tempos, estou no quarto com o notebook conectado em um aparelhinho que cabe em minha mão (e ela é pequena), digitando e assistindo "Os Thunderbirds" com o filhote que está em uma fase "naves".

Pois é, então...