terça-feira, 22 de maio de 2007

Morangos, trabalho escravo e os vários lados da informação

Como não assisto TV aberta, não vi, só ouvi comentários. Alguns dias depois, por acaso, passando por uma televisão, ouço a Leilane Neubarth anunciando. Parei para ver.
Não sei se a matéria que vi foi editada ou foi a mesma que foi ao ar pela EPTV Sul de Minas (acredito que seja a mesma, mas...). Não sei qual jornal ela apresenta, nem seu alcance, tampouco se foi veiculada em outras edições ou outros programas.
O que sei é:
. generalizações podem ser muito irresponsáveis;
. uma história não tem apenas dois lados.
Ao parecer na TV, afirmando suspeitar que haja trabalho escravo nas lavouras de morango do Sul de Minas, a funcionária da fiscalização do Ministério do Trabalho pecou. Ela mesmo disse "suspeita". Com base em quê? Isto não foi dito.
"Empregados sem carteira assinada". Não posso afirmar por todos, mas sei que existem contratos de parceria, então não há vínculo empregatício.
"Aliciamento de trabalhadores". Novamente não garanto que não haja, mas quem mora na região sabe que migrantes aparecem por livre e espontânea vontade, atraídos pelos comentários de que há trabalho (o que não deixa de ser verdade). Chegam em ônibus precários que não sei como trafegam por estradas estaduais e federais, centenas de quilômetros sem serem apreendidos. Fazem a opção de morar no pedaço de terra onde se comprometeram a trabalhar mediante o contrato de parceria para economizar, já que teriam que pagar aluguel e transporte para chegar à lavoura.
É uma moradia digna? Não. Pelo menos para nós, acostumados ao conforto de uma casa com água, energia, esgoto e todos os benefícios que uma região rica como a nossa pode oferecer para grande parte da população.
Mas, em algum momento, alguém viu como esses trabalhadores vítimas da ganância dos morangueiros viviam?
É uma desculpa para explicar a situação em que se encontravam? Novamente não.

O que mais me incomodou na reportagem foi que, em nenhum momento, ouvi as supostas vítimas, não ouvi nenhuma reclamação por parte delas, assim como nenhum comentário, mínimo que fosse. Mas ouvi uma fiscal achando sem mostrar evidências de que fosse verdade. Ouvi uma manchete colocando todos os proprietários de terra com lavoura de morango do Sul de Minas no mesmo balaio. Ouvi pessoas que trabalham honestamente serem vítimas de chacotas e "brincadeiras" e terem sua credibilidade afetada.

Afinal, que jornalismo nós temos? Supostamente deveríamos assistir noticiários e ler jornais para nos informar. Mas a cada dia que passa, estou mais convencida de que, em proporção, a desinformação ganha da informação. Ter a informação incompleta gera opiniões equivocadas, por conseguinte, cidadãos não esclarecidos acreditando que tiveram acesso à verdade dos fatos.

Mas eu ainda acredito em um mundo melhor. E os jornalistas poderiam ajudar muito.