domingo, 7 de março de 2010

"A vida é bela"

Assistindo Oprah, ouço a história de um famoso crítico de cinema, Roger Ebert, que, após enfrentar um câncer e perder a mandíbula, as glândulas salivares, a possibilidade de  falar e comer, continua trabalhando e feliz.
Com o rosto deformado pelas inúmeras cirurgias, se recusa a passar por outra apenas para reconstrui-lo. Ele escreve:
"Creio que, se no final de tudo, de acordo com nossas habilidades, fizemos algo para deixar os outros um pouco mais felizes e a nós mesmos também, isso é o melhor que podíamos ter feito.
Fazer os outros menos felizes é um crime. Deixar nós mesmos infelizes é o começo de todos os crimes. Devemos contribuir com felicidade para o mundo. Isso é verdade, independentemente dos nossos problemas, nossa saúde, nossa situação. Temos que tentar.
Eu nem sempre soube disso, mas fico feliz de ter vivido o bastante para descobrir."

Aceitar-se é básico, mas nem um pouco atual. 
Sempre acontece de pessoas se assustarem ao saber da diferença em meu pé e minha perna - agora pernas. Assustam-se porque - não sei como - me conhecem há algum tempo e não tinham percebido.
Dizem que é por eu não agir como se o "problema" fosse um problema.  E realmente para mim não é. É sério quando digo que nem lembro. Talvez seja por não fazer diferença em nenhuma atividade da minha vida - só não posso comprar um sapato porque gostei na vitrine, mas pessoas com pés normais também não, então...
Nunca deixei de usar saias, mini-saias, shorts, sandálias abertas ou qualquer outro tipo de sapato que expusesse meu pé ou minha perna. 
Eu ando. Quero mais o quê?

Há cerca de três meses soube que uma pessoa que trabalha comigo não usava saia ou sandália aberta porque tinha tido paralisia infantil e feito uma operação que deixou uma cicatriz que começava próximo ao calcanhar e subia em direção ao joelho. E ela só me contou porque eu estava mostrando o meu "problema". Aquilo foi, durante toda sua vida, que é um pouco mais longa que a minha, um real problema.
Voltando das férias agora em janeiro, ela me contou que já tinha comprado duas sandálias e duas saias e que eu a veria usando - e vejo. 
Não me lembro de alguma vez ter reclamado ou me sentido injustiçada ou ter tido qualquer outro sentimento ruim por ter nascido assim. E, pensando bem, acho que devo agradecer.